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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Medo da perda, o descaso alheio e 2 horas de sono

Sabe aqueles dias que você desejaria não ter acordado? 24 de maio de 2011.
Passo a madrugada toda rolando na cama sem conseguir dormir, acordo atrasada, atraso os outros. Mais um daqueles dias onde o pão queima na chapa, o café tá mal adoçado, você não acha a sandália certa, pega uma qualquer, vira o pé e cai. Vai pra rua, o trânsito tá enorme, o carro enguiça, o ônibus não passa... o mundo para ao seu redor. Você fica sem saber se pensa ou se age. Se pensar, perde tempo, se agir, é quase atropelado. Bom dia pra você também, mundo.

Hoje eu passei mais de 1h escrevendo mil coisas no meu celular, preparando postagens, mas nem parei pra ler, porque eram só reclamações. A última coisa que eu quero fazer é ficar aqui, escrevendo, escrevendo, escrevendo e escrevendo um pouco mais um milhão de reclamações sobre a minha vida.

Peguei meu celular, a bateria tava fraca, mas dane-se. Coloquei os fones, escrevi... apenas reclamei enquanto via a minha mãe com falta de ar do meu lado.
Foi o seguinte: ela não estava enxergando nada direito, perturbamos ela pra ir no oftalmologista. A clínica funciona assim: um médico é por hora marcada, o outro é corrida de galinha: quem chegar primeiro, consegue um 'encaixe'. Só que a gente não sabia disso. Desde quando eu me conheço por gente eu passo horas naquela clínica (motivo de eu sempre ter estudado pra Medicina, queria ser Oftalmologista), esperando o médico chegar e por aí vai... o outro era por hora marcada. Aí o carro enguiçou no meio do caminho, chamamos o meu irmão, chegamos ao médico, e a secretária fazia de tudo, menos separar a ficha da minha mãe.
Certas horas, eu só consigo pensar quando estou em transe. Só tenho boas idéias escutando música. A música é o meu transe. Elas me comandam, uma pode dizer que está tudo bem, outras me deixam revoltada, poucas me acalmam... E eu lembro que estava ouvindo Lobão cantar "A Vida É Doce" e tentando não estrangular a bendita secretária.
Fato concreto: quando o assunto sou eu, tenho paciência de Jó. Quando o assunto é a minha mãe, eu perco o controle.
A boca dela já estava cinza. Ela começou a tossir sem parar. Olha a faringite estrondulosa linda e maravilhosa começando o meu dia. Ela tomou aquelas bombinhas, levantou e foi ao banheiro. A essa altura da hora, já estávamos sentadas há mais de 1h esperando a senhora dona secretária fazer o exame de grau. Mas não, ela estava ocupada demais vendo televisão. Ao voltar do banheiro, minha mãe começou a perder o ar, e desfalecendo, ela se segurou na bancada da secretária. Todos começaram a falar "atende logo essa moça! ela já chegou aqui passando mal, tinham que ter colocado ela primeiro!" e aquele amor de pessoa que estava sentada vendo televisão disse "daqui a pouquinho é a sua vez". Comecei a cantar baixinho "ameno Dom, dori me Reo, ameno dori me...". Meu novo mantra! E os pacientes desesperados com o estado da minha mãe, e com muita da má vontade aquele anjo de secretária deixou a minha mãe entrar no consultório.
Nessas horas eu perco um pouco o controle. Meu sistema simpático fica super antipático. As mães dizem "prefiro ficar doente do que ver meu filho doente" e eu digo "deixa eu ficar doente no lugar da minha mãe?". O medo da perda.
Eu sempre fui muito cuidadosa com as minhas coisas. Nunca perdi chave, nunca perdi brinco... pra ser sincera, só lembro de ter perdido meu relógio de camelô na minha formatura. Do jeito que sou cuidadosa com as coisas que gosto, sou com as pessoas que amo. Eu "perdi" meu pai, ou pelo menos ele perdeu a essência de ser pai. Minha mãe? É, ela significa o mundo pra mim. E eu morro de medo de perder ela também. E pior do que isso é ver o jeito como as pessoas agem, como se fosse normal você viver com falta de ar. Se não fosse por muito Bon Jovi na minha vida, acho que o meu sistema simpático passaria de antipático a agressivo e eu teria estrangulado uma certa alguém.
"Vai, vai, entra logo, vai"
Entra logo... sabe quando o seu olho começa a latejar? Isso é um sintoma de raiva. Meu olho latejava, minha pupila dilatou... mesmo se não fosse com a minha mãe. Se tem uma coisa que é RIDÍCULA é o descaso do ser humano. O lobo é o lobo do homem... não curto Pitty, mas pelo menos ela lembrou que essa frase existia.

Foi legal quando a gente foi na ótica ver um óculos novo pra minha mãe, e eu pedi par ao meu avô comprar um ferrero rocher no mercado. Ela deu um sorriso tão feliz com 3 chocolatinhos... obrigada, ferrero. Fez o meu dia. Foi só eu chegar em casa, receber boas notícias, pegar o gostoso do meu primo no colo, ouvir ele tentando falar o meu nome... dia 27 ele faz 11 meses. E hoje, ele percebeu que estava perto da minha casa e começou a falar "aba, aba, aba, aba" me chamando. Uma criança e duas horinhas de sono. É, meu dia foi outro.

Como disse acima, eu não queria vir aqui e reclamar da minha vida. Mas, se alguém ler, fica a dica: respire e engula o medo. Respeite quem precisa e quem faz por ser respeitado. E tire um cochilo. Tudo melhora depois de um cochilo. Principalmente se o seu alarme for "Bittersweet Symphony".

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